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Agosto está aí

Em agosto comecei a andar, em agosto vi pela primeira vez o mar e a nao houve grão de areia que não trincasse; em agosto soube o que era o som do amolador e as rodas das carroças de hortaliças a chegar à praca; em agosto comprei o meu primeiro livro com o meu primeiro dinheiro e não dei o meu primeiro beijo porque em agosto eu não tinha namorado; em agosto fiquei na rua, no degrau à noite, porque o meu pai confundiu a campainha com o despertador; em agosto comi caracois e carangueijos e tremoços com pevides; foi em agosto que andei numa bicicleta com duas rodinhas a ajudar as outras e nao houve agosto que me fizesse andar de bicicleta de outra maneira; em agosto a minha mãe usava óculos de sol do tamanho da cara dela e o meu pai ria do ridículo que achava aquilo que eu um dia queria imitar; em agosto eu andei com uns óculos do tamanho da minha cara e o meu pai nao se riu porque acho que estava distraído; ainda em agosto vi que a melhor vista do mundo pertencia a uma vaca num prado em s. Miguel, a vaca! Em agosto aprendi a fazer malas e nunca soube como as desfazer; em agosto vesti me de noiva e parti o salto do sapato tornado me uma noiva coxa que foi brincar ao carnaval de verão; em agosto fiz piqueniques com formigas a picar a língua, em agosto vi o que nunca pude ver antes, falei com quem nunca imaginei falar, chorei e ri, andei pelo país feita repórter num carro azul que perdeu a cor e soube quer podia ser marinheiro porque não enjooei num barco onde chegaram percebes e a notícia de um nascimento. Foi no mar. Em agosto amei, em agosto tive raiva e esqueci tudo. Em Agosto a minha avó caiu para nunca mais se levantar; em agosto cantei cantigas de embalar onde havia uma herói e uma menina que sabia falar inglês. Em agosto corri para ver o que nunca ninha visto; em agosto uma amiga muito amiga ia ter um bebé e teve, e eu, graças a ela, aprendi um dos  incondicionais do verbo amar; em agosto surgiu a Maria e agosto ha-de ser sempre dela. É quase quase agosto, Maria